terça-feira, 3 de junho de 2008

O sentido de humor da Alta Autoridade para a Concorrência

Não há dúvida que, de facto, podemos ser surpreendidos quando menos esperamos e por quem menos esperamos.

Não sei quanto à generalidade da população portuguesa, mas eu confesso que não estava habituada a associar o humor e a vontade de rir com o trabalho desenvolvido por esta entidade.

Confesso mais, confesso que como economicista que aspiro a ser sempre tive o maior respeito por esta instituição, mais que não seja por que tenta equilibrar o mercado, e bem sabemos o caos que se gera quando não existe nenhuma mão invisível a controlar o que os primeiros economistas diziam que devia ser livre. Já vimos esse filme em 1929 e não foi nada catita.

Tive a honra e o privilégio de aprender com alguns mestres que lá desenvolvem a sua actividade profissional e mais uma vez…não estou nada habituada a vê-los por esse prisma, o do sentido de humor ou pessoas para «me fazerem rir».

Foi pois com o maior dos espantos que recebi a notícia da conclusão do relatório sobre a «eventual» cartelização dos cavalheiros que ganham a vida à custa do petróleo e derivados.

Só pode ser um exercício de humor do mais refinado e sofisticado que há. De outra forma não entendo este relatório.

É verdade que existem muitas variáveis que entram em linha de conta quando analisamos a situação dos combustíveis fósseis hoje em dia, é verdade que o ISP é um escândalo e que o governo opta pela postura da avestruz (aliás…julgo que este animal ficava lindamente no logótipo dos senhores mas eles não querem…seria muito óbvio), também é verdade, no limite dos limites, que se calhar a culpa é mesmo dos contribuintes que deviam ir comprar carros lá fora com outros combustíveis mais ecológicos ou inventarem as suas próprias formas de movimentar os carros – no fundo sabemos que a culpa vai ser sempre nossa, de uma forma ou de outra.

Mas em tudo isto há algo que se mantém: pagamos mais do que a generalidade dos nossos amiguinhos da Europa e o mesmo que os senhores do Norte da Europa (que por sinal têm um poder de compra que bate o nosso aos pontos), e basta ir aqui ao lado para perceber que crise de petróleo e furto são conceitos muito diferentes.

Depois deste rabisco geral posso finalmente explicar porque é que considero que eles têm imenso sentido de humor.

Desde que ocorreu a liberalização que os preços subiram vertiginosamente e, pasmem-se! Ao mesmo o tempo em todo o lado (ou quase).

Que estranho…nenhuma marca se lembrou de aproveitar as subidas alheias e manter os seus preços por forma a ter mais clientes e por aí aumentar as margens de lucro, aquele raciocínio básico que funciona até nas mercearias «ok…diminui a margem de lucro na venda individual mas como vou ter mais clientes vou ganhar mais dinheiro», nada disso, subiram todas e quase sempre ao mesmo tempo –estranho? Não! Comportamento normal na óptica destes senhores.

Descerem todos ao mesmo tempo? Estranho? Não! Comportamento normal.

Preços quase fotocopiados nas principais marcas? Comportamento normal! comportamento normal! Comportamento normal!

E o que é facto é que há bombas que ainda vão tendo preços mais em conta…todavia estão abertas e a lucrar, ou então são só agências de caridade mal disfarçadas e eu não sei…também é possível!

Não é só a alta autoridade para a concorrência que tem muito sentido de humor…cada vez que ouço algum alto quadro da Galp também me rio muito.

Mas esses é por outros motivos…dizem os coitados que têm uma margem de lucro mínima e que passam muitas dificuldades, até queriam baixar mais mas não podem (‘bora lá fingir que não são uma empresa chave em toda esta temática). Pode ter sido imaginação minha mas os relatórios de contas, os balanços e restante parafenália financeira têm vindo a demonstrar a excelente saúde financeira da Galp, facto que até orgulha bastante os seus gestores. Estou confusa, das duas uma: ou têm margens de lucro muito baixas ou estão de plena saúde…

E depois este relatório peca por algo muito pouco difícil de explicar…analisa apenas os últimos 4 meses…muito bem pensado! Porque até há 4 meses atrás quando abastecia o meu carro com, vamos lá…20 euros, o que eu tinha eram 20 litros de gasolina ou talvez mais, claro que sim…o problema só começou há quatro meses e ninguém me atirou areia para os olhos enquanto se aproveitava de um problema estrutural (há pouco petróleo e ponto final , o bem rareia mas a procura aumenta o preço sobe) para o agravar ainda mais e lucrar de forma obscena com isso!

Como já se disse, é lógico que os preços são estabelecidos pela oferta e pela procura mas o que se verifica neste momento é uma despudorada optimização de uma situação grave para benefício de alguns, como se estivessem a cobrar 80 euros por uma aspirina a alguém que está com dor de cabeça.

Falar deste assunto sem falar do ISP também seria irónico mas quanto a isso não há muito a dizer:« BAIXEM ESSA M***A!», já nos vão ao bolso de 1573 formas diferentes mas isso não chega, têm de nos roubar um pouco mais e zás! Atacam logo um ponto que tem influência em tudo o resto, porque a verdade é esta: o pacote de leite que bebem pela manhã não chega ao supermercado de bicicleta e se o petróleo sobe…e se os pescadores não conseguem rentabilizar o trabalho deles…ah…desculpem para isso já o Sócrates já tem solução: vamos importar! É sem dúvida um prazer viver num país governado por um ser arrogante e completamente alheado da realidade. Sabe, Sr, Primeiro Ministro…vem atrasado, 34 anos atrasado! Com certeza que teria tido o maior prazer em governar em tempos de ditadura mas… também já vimos esse filme e não gostámos!

2 comentários:

Anónimo disse...

"Estás lá" Ana...Interessante. Vai em frente. Temos de desenvolver um pouco mais, mas vai em frente!.. Ass: Bruno

Indigente disse...

Discordo da vírgula, mas concordo com o ponto final.

Cara Yana, Há muita coisa mal neste pais, mas há ainda mais coisas más neste mundo. Diz a filosofia que devemos partir do geral para atingir o particular, mas dá-nos sempre muito mais jeito partir do particular para o geral, sobretudo quando é para falar mal.

O que está mal não é do que nós falamos mal, o que está mal nós nem sequer falamos.
Vamos então partir do geral para o particular:
A crise acontece depois do 11 de Setembro. Podemos especular quem de facto planeou o 11 de Setembro, mas para isso já temos o filme “ Fahrenheit 9/11” que já faz toda a trama da teoria da conspiração. Verdade ou não, não sabemos, mas factos são factos e o preço do petróleo desde ai até hoje, já lá vão quase 7 anos, não parou de subir. Alias, para o português foi logo na mudança da moeda do Escudo para o Euro.
Desde 2001 tudo serve de desculpa para aumentar o preço do petróleo. O dólar a cair, o Euro a subir, a economia da china a crescer, Hugo Chavez a não colaborar com o FMI e com o os EUA, as taxas de juro, o buraco no ozono, o buraco nos fundilhos do bolso do Bush…
Repara que o preço do petróleo sobre em todo o mundo, repara que a nível mundial há uma crise alimentar enorme muito por culpa dos combustíveis.

Vamos agora para o particular. A união europeia, e agora ainda de forma mais evidente no tal de “tratado de Lisboa”, quer acabar com empresas que façam parte dos Estados. A ideia é relativamente boa se o mundo fosse lindo e perfeito, mas como não é, não concordo. Mas dentro desse espírito os governos, e sobretudo a Senhora Manuela Ferreira Leite, têm vindo a privatizar as empresas do Estado afim de colocar o país numa situação de real livre concorrência.
O que se passa com a Galp, passa-se com outros grupos, como é o caso do Grupo PT, a antiga TLP.
Antigamente o Governo tabelava o preço dos combustíveis, e as companhias tinham de seguir essa tabela. A teoria da concorrência diz que no mercado livre, os preços iriam descer, mas…
Há quase sempre um “mas”!
… mas o crude que entra em Portugal é refinado APENAS pelas refinarias da Galp, ou seja, é a GALP a tabelar o preço de produção.
As outras companhias ficam com migalhas! Obvio que se as gasolineiras dos hipermercados vendem mais barato, é porque há margem de manobra do valor final, no entanto, o hipermercado se vender a 0,01€ a mais que o valor de compra, sabe que a maioria depois, há-de ir fazer comprar ao hipermercado, e o que não deixa em gasolina, deixa em compras.

“ mas em Espanha a gasolina é muito mais barata… “ pois é, e todos os outros impostos também, e os ordenados de modo geral são mais elevados… Mas o que acontece é que na altura do tal de Cavaco Silva, enquanto Espanha apostava em desenvolvimento sustentado, em Portugal o Cavaco apresentava estradas e uma politica de betão, pelo meio muito agricultor comprou grandes carrinhos…. Não sei se deu para Austin Martins, mas ficaram bem melhor do que o que estavam, e lá está, não precisaram de cultivar nada!
Mas não era essa a ideia dos fundos comunitários??? Pois…
Ao fim de 30 anos, o resultado verifica-se nas condições socio-económicas dos dois países…
Obvio que o Engenheiro-tecnico José Sócrates agora, não pode matar a galinha dos ovos de ouro do país.
Já andam a ter que mexer no Imposto automóvel, baixar o défice, construir aeroportos, TGV… não podiam ficar sem capital para sustentar isto tudo.
Obviamente que quem contesta o Governo é a função publica e seus compadres.
Andam a ser obrigados a trabalhar e isso custa um bocadinho.

Por hora vou parar porque tenho de ir jantar e porque o meu comentário já vai mais longo que o teu post… :D