quinta-feira, 5 de março de 2009

Eça de Queirós e Ricardo Reis, a mesma verdade

«Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança — nem a um
desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade
com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes
e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria
organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo
até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter
apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.»

Os Maias, Eça de Queirós

«Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço. »

Ricardo Reis

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