quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dever cumprido

Uma das regras basilares da nobre profissão da advocacia é não falar em público sobre os casos em que se trabalha, divulgar nomes ou pormenores que possam colocar em risco a privacidade dos clientes, e aquilo que é dito entre advogado e cliente.

Como é lógico não o vou fazer. Mas nos últimos tempos os advogados-estagiários foram elevados ao mesmo estatuto que as bruxas durante a época da inquisição e são vistos como alvos a abater precisamente por quem os devia defender.

Cada intervenção do «nosso» Bastonário contém sempre uma consideração ou outra sobre como somos mesmo incompetentes e tolinhos, sobre como nos limitamos a «pedir justiça», como somos pouco mais do que analfabetos. Bem...em bom rigor se calhar é abuso dizer «nosso» Bastonário depois do próprio ter enviado um mail a todos os seus colegas onde dizia que não o era, que não tinha dever nenhum para connosco, nós, que nem inscritos na Ordem estamos (eu ando sempre com uma cédula azul que parece dizer o contrário mas pronto...).

Poderia discorrer toda a noite sobre isso mas passei a Deontologia, bebi nas palavras de Santo Ivo e há regras que, para mim, são já parte da minha pele, mesmo que ainda não tenha conseguido a cédula encarnada que tanto almejo, por tudo isto não vou tecer considerações sobre o meu Bastonário. Porque tenho para com ele um dever de respeito-porque é o Bastonário actual, porque é um colega mais velho, porque a dignidade da pessoa humana assim o dita.

Ainda assim, hoje adormeço muito cansada e muito feliz. Com a melhor sensação de dever cumprido.

Durante os últimos meses tive um caso a dar-me voltas à cabeça por todos os motivos e mais alguns mas principalmente pelo lado humano-impossível de dissociar tantas e tantas vezes.

Pois bem...esse caso conheceu o seu desfecho hoje, e adormeço sabendo que cumpri o meu dever, que consegui atingir o objectivo num caso que parecia perdido.

Adormeço a saber que se conseguiram reunir as condições ideais de como um Estado de Direito deve funcionar, com a colaboração de todos os intervenientes numa perspectiva de colaboração e não de despique. Médicos, enfermeiros, assistente social, Juíz, Ministério Público, família e vá...lá pelo meio também andei eu.

Posso nunca vir a ter a cédula encarnada mas aquilo que faço está carimbado de responsabilidade e de esforço máximo no sentido de fazer aquilo a que me proponho.

A partir de sexta-feira alguém vai voltar a dormir no aconchego de um lar.E, querendo ou não, foi um trabalho desenvolvido por uma ADVOGADA-ESTAGIÁRIA.

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