quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

«to make it count»

A perspicácia. O malabarismo sentimental. As horas de volta do computador para encontrar o que está à distância de um telefonema. Olhar para ele pela primeira vez e pensar:«uau, é este e é meu!». Pegar na chave e conduzi-lo como se estivesse num daqueles meus encontros que acabam de madrugada com duches de água quente. O monólogo da descoberta. Aprender a tratar dele (gasolina e pressão nos pneus e a água para limpar os vidros e os acessórios todos).

Os dias de revolta silenciosa. O bolo de chocolate acabado de fazer acompanhado de técnicas de interrogatório ao melhor estilo causídico. O querer seguir as regras e ter uma rasteira pregada pelo outro lado. O jogo de xadrez que não acontece. O golo que não se marca. «I never really wanted you anyway». Ana Bolena ibérica sem a passagem pela Torre de Londres « tua namorada não posso ser e a outra não serei».

O amigo de todos as horas com direito a benefícios. Sem mentiras, sem pretensões a tocar nas estrelas mais tempo do que o necessário. Um certo bar manhoso e por isso o paradoxo do momento.Frank Sinatra. Karaoke. New York, New York com a melhor interpretação que eu já ouvi,(e ouvirei durante muito tempo). Vinho do Porto, muito Vinho do Porto (Porto para mim, whisky para ti).Análise de um certo ambiente assim...sui generis. Gotas de água quente a caírem-me pela cabeça abaixo às 5 da manhã com a pressão ideal.Carro. Conduzir. Festa logo à noite.É uma pena que Fevereiro tenha de acabar.

Garrafas de cerveja por todo o lado. A minha máquina a captar expressões.O vídeo que vou ver à exaustão sempre que me chatear durante as próximas semanas. Trocas de nomes que deixam pistas sobre momentos protegidos num futuro tão próximo. Cassiopeia-é a minha constelação preferida. Órion. Uau, que céu tão estrelado.Se calhar devia levantar-me.Sou convidada a permanecer e é isso mesmo que faço. Um beijo no pescoço faz-me viajar 350 kms. Barulho lá fora. Acho que estão bater na porta. Acho que estão a bater na janela. Este cigarro está a saber-me pela vida. Adoro adormecer assim. Adoro acordar assim.

Adrenalina como anestesia. Ideia marinada desde novembro e prestes a ser concretizada. Escolho o tamanho.Deito-me na maca. Vejo agulhas, bolas, alicates. Spray frio. Respiro fundo.Alicate na pele. A minha carne a receber um objecto estranho. Vai ficar cá muito tempo. Parece tortura chinesa aos outros mas para mim é lindo.Onde é que vou fazer o próximo?

A primeira viagem de tantos quilómetros sem gritos nem gritinhos nem instruções que me colocam muito mais em risco do que a velocidade que possa ser pratica na ARC airlines.O abraço depois de tanto tempo sem vir cá. Deus! Como é bom. Adorava viver aqui. Adorava poder brincar às famílias sempre que me apetecesse.

Pronúncia do norte. Curvas bem feitas. A carrinha voa. Estamos a chegar. A carrinha abranda. Batemos no muro. Ironia-enquanto estávamos a andar rápido não aconteceu nada, agora que estávamos a pisar ovos toma lá.Silêncio. A minha prima pede-me que explique o que aconteceu.Não sei explicar.

Uma boa pizza e vinho verde e café e uma conversa fluída. Quem disse que uma boa amizade não pode começar pelo fim enganou-se.

A paisagem é linda. Mágica. A água está tão fria! Mas as cores! Verde e água por todo o lado. Será esta a mesma serra que me habituei a ouvir criticar durante tanto tempo? Casais por todo o lado. São mesmo irritantezinhos. Última foto, perspectiva picada. Podia ser melhor mas não a apago. Joelho dorido. Pulso arranhado. Fdx! Outra queda. A minha máquina partida. Viajo outra vez 50 kms em 3 segundos. Estranha mania esta de me lembrar sempre de ti nestas ocasiões,mas se estivesses aqui eu não teria caído.E mesmo que me aleijasse eras sempre tão...tu! Levanto-me e continuo a descer. Entro no carro. Não me vou lembrar mais de ti hoje.

Dor na alma. Tão profunda e tão ridícula. Mas o que é que me dói? Não sei, mas sei qual é o antídoto. Bairro alto. Boa companhia. Serenata improvisada. Primeira multa.Alguns Portos. Perguntam-me qual a natureza da minha relação com o meu antídoto preferido. Fraternal, claro. E não estou a mentir. Máquina? Qual máquina?

Into the wild. Em livro e em filme e em banda sonora. Um dos melhores filmes do ano. Ainda que não perceba se aquele rapaz tinha uma coragem imensa ou era simplesmente louco ou se andava a fumar alguma coisa estragada. As pessoas cansam. Por muito que gostemos delas.Compreendo a cena dele.

Gente, muita gente, cerveja da praxe e de repente viajo até até casa em 3 segundos. Expensive Soul interpretam Porto Sentido. É mesmo isto. Não há mais sítio nenhum do mundo onde preferisse estar. Always. Ao vivo. O bilhete valeu cada cêntimo. Como todos os momentos de magia o fogo-de-artifício anuncia o final.

Um pôr-do-sol. Amêndoa amarga. A beleza no seu melhor estado. Uau. Como é que pode haver tanta tensão num ambiente tão bonito? Por vezes as pessoas são mesmo assim. As pessoas mudam. Consolido a ideia que tal como eu tenho as minhas viagens mentais também as pessoas em geral fazem viagens para outros «lados». Corpos passam a ser ocupados por outros seres. E a pessoa de quem gostávamos vai-se embora. E ponto. Nada de dramático nisto. Mas é triste, muito triste quando acontece. Ou quando percebemos que um determinado sentimento não é recíproco. Quando temos um sentimento que, pensamos, está a ser consolidado, construído como as grandes catedrais e depois percebemos que não passamos de uma acção na Bolsa. E pelos vistos não somos uma acção lá muito bem cotada nem em que valha a pena investir. Foi um ano complicado para a Bolsa de Valores.

Chávena de café. Palavras breves. THE END. Game over. A velha técnica de virar o bico ao prego-odeio. Quando tenho razão, tenho razão. Não tentem convercer-me do contrário. Não peguem num comportamento qualquer meu para justificar faltas de respeito. Actions speak louder than words.

Ver o amor a nascer, ou a afeição revestida de paixão. Principalmente quando a pessoa que está feliz nos é tão próxima e tão cara. Adoro.

Hospitais. Brancos. Montes de azulejos. Se os utentes não entrarem malucos ficam rapidamente.Olhares perdidos. Recuso pensar nas vidas daquelas pessoas. É tão fácil passar para este lado. Uma enfermeira vem acompanhada.«Se precisar de alguma coisa grite». Grito pois. Grito agora, se ainda for a tempo, mas fiz o meu trabalho, ainda que a minha consciência pessoal me diga que não o devia ter feito a profissional dorme lindamente.

Os anos passam mas há coisas que permanecem e que já temos como certas. Durante este ano alguém me explicou que uma ralação, aliás, relação amorosa apresenta um sinal muito claro de potencial quando nos sentimos tão à vontade com determinada pessoa que é como se ela fosse da família, tipo pais ou irmãos.Acho que se aplica o mesmo à amizade.Ao fim de uma década de convivência os altos e baixos são inevitáveis. Mas mais uma vez, as pessoas não são acções. Quem pensasse assim não está hoje aqui sentado(a).Ainda assim confesso que sinto a falta dela. Da alegria e do ímpeto. Das noites de copos e dos almoços de Natal. Das tardes a andar de patins. De como não julgava ninguém. Das sessões de fotos.

Adoro estas tardes. Gostava de me pôr aqui a falar contigo sobre tudo e mais alguma coisa. Sobre livros e momentos e viagens. Mas tu não lês os mesmos livros que eu (pergunto se lês, de todo) e os sítios onde foste, eu não conheço (ainda assim ficaria horas a ouvir-te falar, garanto). Tens um imenso pudor (será essa a palavra certa?ou será receio?) em ser um pouco mais simpático comigo, ou cordial. Presumo que tenhas medo que te interprete mal e comece a construir castelos no ar. Mais uma vez faço 350 kms em 3 segundos, aos tempos em que não havia esses receios, lembro-me que são pessoas diferentes e formas diferentes de estar e de que existe entre os dois uma diferença basilar e começo a pensar em ir embora. Olho para ti, acho que também não estás cá, pareces-me adormecido. Adoro estas tardes, não há mais sítio nenhum onde me apeteça mais estar, nem sequer a 350 kms. Agora é que me levanto mesmo. Ouço-te dizer para ficar mais um bocadinho mas finjo não ouvir, estou a gostar demasiado de estar aqui.


2008 foi assim, um ano cheio de emoções. Cheio de coisas boas e novas responsabilidades. Cheio de momentos e snapshots. Foi também um ano de perdas, até ao último dia, até ao último minuto. Foi um filtro, por vezes estes filtros são necessários. Perceber quem fica, quem vai. Quem permanece mas só em determinada medida. Quem gosta mesmo de nós e quem nos respeita-ambos, porque podem gostar muito de nós e no último minuto demonstrar a maior falta de respeito. Perceber que tipo de ser humano somos e qual o que queremos ser, e se estamos no bom caminho. Acho que não me estou a safar mal.2008 foi um ano em que cada minuto contou.

Para 2009 o meu objectivo é mesmo esse:«to make it count».

1 comentário:

Anónimo disse...

Aninhas ... que grande camiãoooooooo que descarrilouee ... carambaaa ... E eu sei que o 2008 foi muito mais que isso tudo :) No fundo o que é importante é fazer-mos mesmo com que cada dia conte assim para o muito. E isso só depende de nós :) beijocas